sábado, 22 de outubro de 2011

Difícil de Acreditar



13 de Outubro. Numa rua de Foshan, na China, uma menina de dois anos chamada Yue Yue tinha saído da loja dos pais sem estes darem conta.
O que se passou a seguir foi captado por uma câmara de segurança.
O vídeo: vemo-la deambulando pela estrada, sozinha, sem se aperceber do enorme perigo que corre. Porque é um vídeo visto já por milhões e falado em dezenas de publicações em todo o mundo, adivinhamos o que está prestes a acontecer.
Uma carrinha branca aproxima-se e atropela-a. A roda dianteira passa por cima do corpo da criança e o condutor imobiliza a viatura.
O que esperamos que aconteça, perante este atropelamento registado por uma câmara de segurança, é que o condutor saia do carro e socorra a criança.
Não é isso que acontece. O condutor não chega a sair do carro. Em vez disso, volta a arrancar com o veículo, passando lentamente por cima do corpo da menina, desta vez com a roda traseira. A menina fica estendida no chão, inconsciente, esvaída em sangue.
O que esperamos que aconteça, perante este segundo atropelamento, é que alguém passe pela rua e socorra a criança.
Não é isso que acontece. Três pessoas passam, olham e seguem em frente como se aquele ser humano fosse um cão vadio atropelado. Enquanto o nosso cérebro tenta processar esta desumana indiferença, um segundo carro aproxima-se. O condutor não dá pela menina estendida no asfalto e a criança é atropelada pela segunda vez.
O que esperamos que aconteça, perante este horror, é que alguém passe e acabe por socorrê-la. Talvez ainda possa ser salva.
Não é isso que acontece. Passam mais duas, três, quatro, cinco, dez, doze pessoas, dezoito ao todo, e ninguém mexe uma palha para retirar o corpo do meio da estrada, muito menos levá-la a um hospital.

A décima nona pessoa

Chen Xianmei, 57 anos, empregada de limpeza, repara na criança quando despeja o lixo e carrega-a para fora da estrada enquanto grita por ajuda. Chen é a décima nona pessoa. Tinham passado sete minutos. É então que chega a mãe para levar a filha ao hospital.
Chegou em estado de coma. Só um reflexo a estímulos de dor impediu os médicos de declarar morte cerebral. Cinco dias depois, a criança morreu.
A consciência moral de uma grande parte dos chineses ficou ali naquela estrada suja e mal iluminada, afundada numa poça de sangue. A China pergunta porquê.
Grande parte dos transeuntes nega ter percebido o que se estava a passar. Alguns negam tê-la visto. Outros confessam-se: «Sinto-me arrependida, cheia de dor e culpa» – diz um deles, a mãe de uma criança de cinco anos. «Pensei que ela tinha caído numa brincadeira qualquer, não fazia ideia de que tinha sido atropelada por dois veículosEla sangrava do nariz e da boca, e chorava. Assustei-me, a minha filha assustou-se, e fugimos dali para fora.»
«Queria levantá-la, mas havia tanto sangue. Fiquei em pânico».
O condutor que a atropelou e voltou a atropelar, já detido pela polícia, tem também justificações a dar: «Se outra pessoa a tivesse atropelado também fugia. Se ela não estivesse no meio da estrada não a tinha atingido».
Há quem atribua esta reação de indiferença a um caso ocorrido em 2006 e que teve sérias repercussões no país: uma senhora caiu, um bom samaritano ajudou-a, levou-a ao hospital, a senhora processou-o, acusando-o de ter sido o causador da queda, o juiz decretou que só ele poderia, de facto, ter tido condições para ser o autor da queda, dada a proximidade da vítima, e condenou-o a uma pesada indemnização. É uma história verídica, mas dificilmente poderá explicar este caso.
Por isso, a China procura lavar uma consciência ensanguentada com o papel brilhante das notas.
Uma empresa ofereceu aos pais 50.000 yuan (pouco mais de 5,600 euros). Outra reuniu 500,000 (56,9 mil euros) para ser dividido entre a família da criança, a única mulher que a procurou ajudar, Chen Xianmei, e um fundo destinado a recompensar quem ajude os outros.
Chen Xianmei, a mulher do lixo, recusou a recompensa.
«Não o fiz por dinheiro».
Retirado de: http://bitaites.org/

domingo, 16 de outubro de 2011

Todos à Rasca

Já não é só uma geração que enfrenta grandes dificuldades, o país encaminha-se a passos largos para esse cenário. Naturalmente, tem de existir insatisfação e indignação, até ao momento parece bem pouca. Ontem, em Portugal e no resto do globo saiu à rua uma pitada de descontentamento e inconformidade temperada com ordem e serenidade. 


O controlo das políticas dos países não é só dominado pela classe política, mas também pelo crescente poder da alta finança, da especulação, dos mercados, dos credores, a serviço do lucro sem escrúpulos. 

É de esperar que todos se continuem a manifestar, com o progressivo degradar das condições de vida. Este é caminho, pois se todos estiverem acomodados há luz verde para que quem vai degradar esteja à vontade. Com a contestação, pelo menos, pensará duas vezes. 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Época Medieval do Século XXI

"A actriz iraniana Marzie Vafamehrha foi condenada a um ano de prisão e 90 chicotadas pela sua participação no filme «Teherane Man Haray», que narra os problemas de uma jovem artista para viajar à Austrália".
Diário Digital (link)








Pensamos que época medieval já dista uns séculos dos nossos tempos. Com alguma regularidade, de terras distantes, surgem ecos de que ainda existem fogueiras intelectuais e tortura física, certamente concomitantes com a natural censura e controle dos meios de comunicação. Estes ingredientes juntos cozinham um apego inconsolável ao poder. Acresce ainda, a religião instrumentalizada a serviço da consolidação desse poder, ansiando por aprisioná-lo sobre o comando de um regime para envelhecerem juntos. Irradia da união do homem ofuscado em estar acima de tudo e o poder absoluto, o espartilho da sociedade, do indivíduo e sobretudo da liberdade. 

A mulher, em particular, num regime totalitário com extremos religiosos, é a vítima mais severamente atingida. Reprimidas, limitadas, controladas e subvalorizadas, com requintes que orbitam o ridículo e a estupidez. Sendo difícil de pensar nas nossas sociedades, que há muitos séculos também passaram por épocas semelhantes, sofrendo pesadamente, as consequências de poder excessivo combinado com extremismo religioso. 

São ecos, cada vez mais próximos, num planeta globalizado, ou bem próximos se atendermos à humanidade que nos conecta. 



terça-feira, 4 de outubro de 2011

SNS for Sale

"O Ministério da Saúde afirma que o valor das taxas moderadoras não vai ultrapassar um terço do preço pago pelo Serviço Nacional de Saúde por cada acto, mas sem adiantar o montante dos aumentos. Por outro lado, serão mais elevadas nos hospitais do que nos centros de saúde. No caso de uma urgência hospitalar, cujo valor pago pelo SNS é de cerca 150 euros, significa que a taxa moderadora andará sempre abaixo dos 50 euros, quando hoje é de 9,60 euros"                                                      Jornal de Notícias


     
                                                                                  
 Existe o risco de as taxas moderadoras subirem exponencialmente, sendo na verdade não para moderar, mas taxas para financiar. Considerando que será o primeiro passo, novos aumentos poderão existir. Haverá isenção para casais que aufiram menos 1248€, valor que no futuro, certamente, descerá. Será legitimo ao mortal e comum pagador de impostos, pensar se aliado à elevada carga de impostos, ainda tem de pagar uma parte significativa dos serviços de saúde do SNS a que recorre? Concluirá que a sobrecarga é incomportável e ilógica. Vai considerar recorrer ao sistema privado e/ou obter um seguro de saúde. Esta conclusão a que todos chegamos, foi o raciocínio de partida do Ministro Paulo Macedo. Deste modo, os alicerces da privatização SNS estão firmemente lançados. 

As seguradoras e prestadores de serviços a operar na saúde, irão aumentar o seu volume de negócios e margens de lucro, visando a pura lógica de mercado e enriquecimento. Quem tiver bom aporte financeiro terá a saúde que entender. As seguradoras irão cobrir alguns produtos/bens de saúde, dependendo do tipo de seguro e de custos implícitos. Não se pense que esses seguros serão vitalícios ou que serão muito alargados, pois no que diz respeito a despesas elevadas ou pesadas não haverá cobertura, como por exemplo transplantes, oncologia, diálise... Já para não falar de plafonds para internamentos e resistências em celebrar seguros de saúde conforme a idade se avoluma consideravelmente.

O Estado irá manter um SNS limitado, barato para fazer caridade aos excluídos e pobres, para maquilhar a realidade. 

Ainda estamos nos alicerces, a restante construção da "venda" do SNS vão passar-nos à frente (passivamente ou não).

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Clandestino


A todos os clandestinos. A todos eles, que estão aprisionados no amor, na paixão, nas circunstâncias, na inquietude de seguir o coração ou o mais o seguro. A eles, que mesmo arranhados pela dificuldade e incerteza persistem firmes em busca do sonho, de melhor, de ser feliz. 


Muitos caminhos e ainda mais tortuosos existem para se chegar à felicidade. Lá chegando e sabendo disso, há que tirar partido, aproveitar o momento, a altura, que teima em querer ser breve. A constante é a busca de felicidade e não ela própria. A todos os tenazes clandestinos perseguidores desse estado raro, quase ilusório, a minha admiração.  


Ossos do Ofício



Apercebi-me, hoje, como se já não o soubesse, que existia uma réstia de sono, mesmo à tarde... Constatei, ainda, que de todos era o que menos cansaço e vontade de dormir tinha... Ossos do ofício. 


Penso que todos nós amamos o que fazemos e não reclamamos desses ossos, só observamos, constatamos, reflectimos, quando o acaso o proporciona. O trabalhar de manhã, à tarde, as noites, feriados, Sábados, Domingos, Natal e afins. Entra no nosso DNA profissional e replica-se para o DNA pessoal e infecta a "genética" social, familiar e afectiva. Pensamos, ou queremos pensar, que os nossos queridos "infectados" nos compreendem, nos apoiam e que entendem a "mutação" que a nossa profissão presenteia. 


Algo no caminho, os ossos do oficio, o cansaço, a distância dos nossos próximos. Tudo isto é colmatado ao olharmos como os colegas demonstram profissionalismo e força para ter bom desempenho, a vontade de resistir às adversidades. Cada colega é contagiado, inconscientemente, por essa motivação colectiva e pessoal de continuar e continuar bem, a fazer bem o seu trabalho, a relegar as dificuldades para o inconsciente. 


Talvez o equilíbrio seja possível, já que no inconsciente namoram a motivação e as contrariedades inerentes ao trabalho.